Terminando o mês de agosto, após as férias dá-se o início das rentrées (o reinício de atividades ou de funções de uma instituição). Não só se dá o regresso às aulas como ao regresso à política.
Terminam a tão chamada Silly Season – onde os noticiários passam futilidades, não-noticias – e dá-se lugar ao recomeço do ciclo político em que cada um faz à sua maneira, seja em modo de Universidade de Verão, festas anticapitalistas onde se cobra entrada, ou a debitar palavras bacocas.
Manuel Pizarro, ministro da saúde, apesar de afirmar que não está em condições de antecipar o debate orçamental, disse que não tem dúvida nenhuma de que o orçamento para o setor vai aumentar em 2024. Aliás, afirma que desde 2015 que o orçamento da saúde tem aumentado muito.
Isto é tudo muito bonito de se afirmar, porém vamos ver e na verdade são palavras ocas. Na altura da tomada de posse de Pizarro como ministro, António Costa garantiu que o Governo iria reforçar o investimento no SNS e também que seria preciso investir muito na organização e na gestão. Isto em setembro de 2022. Chegamos a 2023 com o SNS num estado caótico.
Fazendo uma pesquisa rápida e encontramos bastantes manchetes dos jornais que retratam o estado que o SNS encontra. “SNS tem mais profissionais, mas não chegam para dar médico de família a todos” – Quase 1,6 milhões de pessoas não têm médico de família. “SNS está numa fase crítica de existência” onde o acesso e tempo de espera são os pontos fracos do sistema de saúde. Mais de mil médicos subscreveram carta a Manuel Pizarro a recusar horas extra – mais que as 150 horas por ano – Entre outras.
É verdade que antigamente o SNS não respirava saúde, tenho a certeza o Pizarro de 1992 estaria na primeira linha de combate ao ministro da saúde em funções, acusando o ministério de nem sequer ouvir os médicos, mas o Pizarro de 2023 arrisca-se a ser o carrasco do SNS.
Contudo, apesar de todo o caos, Medicina continua a ser um curso bastante concorrido. Seja por vocação ou para agradar os pais na ilusão que ter um filho médico lhe trará status.
Nesta primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior entraram 1595 alunos, sendo que é o maior número de sempre de estudantes em cursos de Medicina, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Poderá ser uma espécie de síndrome de Estocolmo, mesmo sabendo como os médicos são tratados, desenvolvem uma lealdade e acreditam piamente que no final dos muitos anos que estão a estudar serão recebidos por um SNS espetacular.
De notar que no dia 15 de setembro de 1979 foi publicada, em Diário da República, a Lei nº 56/79 que criou o Serviço Nacional de Saúde, ou seja, quando os jovens que “hoje” entraram em medicina o SNS terá meio século de existência.
Oxalá que tenham razão e que o SNS não esteja tão caótico como atualmente. Ou vou ser mais ousada e que nessa altura exista em vigor alguma alternativa ao sistema de saúde Beveridgiano que temos atualmente. Já sou eu a sonhar alto, à semelhança dos estudantes de medicina. Felizes os que acreditam.
Cristiana Areia
Engenheira Química | Membro da Iniciativa Liberal Pombal