Os modelos de saúde europeus podem ser divididos entre “Beveridgianos” e “Bismarckianos”. O primeiro foi idealizado no Reino Unido na época de 1940 pelo inglês William Beveridge através do seu Relatório Beveridge, resultando na criação do Serviço Nacional de Saúde Britânico em 1948. Por seu turno, o segundo surgiu através Otto von Bismarck em 1883, que foi promulgada a lei dos seguros de saúde. Bismarck sabia que só podem existir um estado e uma sociedade fortes com coesão social. No modelo “Bismarckiano” é notório uma aproximação mais concreta dos valores do marcado, com a utilização de mecanismos de tipo-mercado e de um diversificado leque de agentes privados. Permite-nos escolher que Saúde queremos ter. Em Bismarck o Estado não é necessariamente o prestador e permite uma maior equidade e eficiência pois modela-se a cada cidadão mediante as suas necessidades.
Retomando ao modelo “Beveridgiano”, este é financiado pelo Orçamento de Estado, o Estado assume todo o controlo do sistema. É um modelo em que o cidadão não paga diretamente a assistência. Assim, de um modo geral, o modelo “Beveridgiano” financia a saúde através dos impostos pagos por todos os cidadãos. É neste que o nosso Sistema Nacional de Saúde (SNS) se encaixa. O SNS é uma estrutura através do qual o Estado Português assegura o direito à saúde a todos os cidadãos de Portugal. Ou assim o deveria ser na prática.
No entanto aquela que é vendida como o melhor sistema de saúde do mundo é aquela que deixou mais de 4000 doentes com cancro sem diagnóstico. Segundo análise feita pelo Movimento Saúde em Dia, sete em cada dez portugueses consideram insuficiente o investimento feito pelo Estado na saúde. Cerca de 80% aponta a falta de profissionais e os tempos de espera como os principais problemas do SNS.
A Ministra da Saúde, Marta Temido, afirma que se deixaram fazer coisas por fazer durante o contexto pandémico e que o importante não é olhar para o que ficou por fazer mas sobretudo olhar para aquilo que falta fazer.
É certo que se meteu uma pandemia pelo meio, mas não justifica de todo o estado miserável que o SNS se encontra. Além do mais, atrevo-me a questionar a senhora Ministra: Desde quando “Ficou por fazer” e “Falta Fazer” são antónimos?
Temido vanglorizou-se ainda com o facto de terem sido feitas muito mais consultas em atividade não presencial. De facto, os contactos médicos presenciais tiveram uma redução de 30% entre 2019 e 2021, que são traduzidos em 6,1 milhões de contactos presenciais. Fico é reticente que estes tenham tido alguma consulta em atividade não presencial.
Mas uma coisa é certa, fazendo as minhas palavras as que palavras um tanto ocas de Marta Temido, mas que darei um outro significado: “Não nos satisfazemos com isso, queremos mesmo fazer mais”. Queremos um sistema de saúde que não deixe ninguém de fora. Um sistema de saúde pública mais acessível, de melhor qualidade, com menos tempo de espera! Não queremos que os doentes fiquem reféns de um sistema sobrelotado e sem capacidade de resposta para quem realmente precisa. Não é deixar de ter hospitais públicos assim como deixar de investir neles pois não se trata de acabar com a saúde pública mas sim querer mais e melhor saúde pública, independentemente do prestador.
Cristiana Areia
Engenheira Química | Membro da Iniciativa Liberal Pombal