Luís Diogo Mateus é, desde Outubro de 2013, presidente da Câmara Municipal de Pombal. Apresenta-se agora como candidato a um segundo mandato, numas eleições que contam com outras sete candidaturas, anunciadas. Aceitou conceder a entrevista na qualidade de candidato, mas é evidente que a longa conversa não consegue distanciar-se do trabalho realizado como presidente da Câmara. A limitação de espaço para a publicação desta entrevista deixou de fora mais do dobro de conteúdo.
Pombal Jornal (PJ) – A sua candidatura é considerada natural, de quem está a cumprir um primeiro mandato?
Diogo Mateus (DM) – Uma das razões acaba por ser, um bocadinho, precisamente, este prestar contas e de sujeitar à apreciação dos cidadãos o trabalho que durante estes quatro anos fizemos cumprir e o plano eleitoral que apresentámos, e a forma com que cada cidadão percepciona essa forma de cumprimento, sem esquecer outras matérias que acabam por acontecer e que não estavam inicialmente previstas. De um modo geral, aqui estamos a sujeitar-nos à avaliação do trabalho realizado.
PJ – Numas eleições com oito candidatos…
DM – Eu fico muito satisfeito pela circunstância. Aliás, deve-se fazer essa interrogação: o que aconteceu à cidadania durante tantos anos? Uma das matérias que precisamente sublinhei no meu discurso da tomada de posse era essa. Mais importante do que saber quem ganha é ter um território que se habitue a estar presente, e continuamente a fazer discussão política, a pensar o seu território, os seus desafios, os seus problemas, os caminhos a querer percorrer… Isto significa que há gente a pensar, preocupada, a querer criar caminhos alternativos. Isso significa que a minha exortação, o meu apelo, foi muito bem acolhido e teve o sucesso que ninguém esperava. Não sei qual o nível de responsabilidade que possa ter tido, mas acho que é muito positivo.
PJ – Terá contribuído também aquela provocação dirigida ao engenheiro Narciso Mota no dia 6 de Maio de 2016?
DM – Não. Quem esteve na cerimónia sabe perfeitamente que não houve nenhuma provocação. Talvez houvesse necessidade de uma justificação, mas isso é outra coisa.
PJ – Pretendeu então que o antigo presidente se clarificasse?
DM – Não. Eu acho que as pessoas devem ponderar com muita responsabilidade a participação na vida pública. E, de facto, o poder justificado com impulsos e candidaturas é uma coisa que, para mim, sob o ponto de vista da minha cidadania, me preocupa. Nomeadamente quando são pessoas de quem se espera uma maturidade dos seus comportamentos políticos com outro tipo de rigor.
PJ – Há quem afirme que o senhor, que foi vice-presidente, também teve uma certa quota de responsabilidade em decisões…
DM – Mas essas contas estão fechadas, parece-me. Eu não vim publicamente desdizer nada disso. Não conheço nenhuma declaração minha, escrita ou falada, que ponha em causa esses caminhos. Aliás, nas matérias que entendemos reverter ninguém encontra nenhuma lamentação com o anterior. Foram todas assumidas como reflexões e decisões tiradas num determinado momento. Se calhar esse foi o erro. Mas não vale a pena voltar para trás.
PJ – Quer dizer que se fosse hoje, teria actuado de outra forma?
DM – As decisões de demolir a dita casa-de-banho, que começaram por ser apresentadas como um desrespeito, é tão ridículo, mas tão ridículo… um antigo presidente de Câmara dizer que se recandidata porque se sente desrespeitado por terem deitado abaixo uma casa-de-banho à frente de uma Câmara municipal… nem acredito que alguém no seu perfeito juízo o possa dizer. Acho que é ridículo! Temos de ter a capacidade permanente de nos interrogar se estamos a fazer bem. Eu não tomei nenhuma decisão de investimento depois de ser presidente da Câmara que aumentasse a despesa que tinha sido feito naquela obra em concreto até a ver uma reflexão entre todos, e foi isso que deu unanimidade na reunião de Câmara. Se formos atentos também não houve nenhuma proposta da Assembleia Municipal a condenar a decisão da Câmara. Não houve quebra de solidariedade nenhuma, verificou-se que a solução que lá estava, sob o ponto de vista estético e funcional não era nada de especial.
PJ – Com a candidatura de Narciso Mota, o PSD ficou fracturado?
DM – Não. De todo. Até acho que está a acontecer uma coisa muito interessante. O PSD está a ficar purificado, o que é uma coisa diferente. Estão-se a clarificar muito bem posições e só quem não trabalhou com algumas destas pessoas é que não conhece as verdadeiras razões que os movem na vida pública. Não é aquilo que muita vez se diz. Há uma conduta de cidadãos que quando são, se calhar, confrontados com pessoas que pedem mais, são mais exigentes, querem mais rigor, vestem camisola e a molham todos os dias em defesa do interesse público, sentem-se menos tranquilos. Depois, há aqueles que mostram, por decisões menos adequados, que de facto são impreparados para o exercício de funções, que trazem resultados negativos e comprometem projectos.
PJ – Mas o facto de ter sete adversários, pode ver comprometida a maioria?
DM – Todos nós temos sete adversários. Há uma data marcada para que os cidadãos se pronunciem, pelo que aguardamos os resultados. Nós percebemos, no campo das áreas partidárias de base, há nalguns casos apenas uma intenção de fidelização do eleitorado, o que significa que à esquerda, havendo correspondência do eleitorado por esse tipo de opções, o mais castigado será o Partido Socialista. E acho que o PS tem razões para estar deveras preocupado com a possibilidade de perder um vereador. Até acho que há candidaturas independentes que pelas características das pessoas que estão a ser convidadas para o projecto, e que muitas não saem da área do PSD mas sim do PS, e que nalguns casos até deram a cara pelo PS em algumas freguesias. Depois, evidentemente, há candidatos que têm uma fidelização de eleitorado muito bem marcada, como o Partido Comunista, por exemplo, que irão manter os seus números, aliás o candidato sendo o mesmo não é expectável que atraia muito mais gente. O mesmo acontece com o CDS-PP, que também me parece não tenha condições para gerar uma onda…
PJ – E quanto ao PSD?
DM – Acho que há uma parte muito vantajosa a favor do PSD que é precisamente o conceito da inutilidade de algum tipo de voto. Na teoria de alguns, que a Câmara possa, remotamente, não ter uma maioria absoluta, o melhor é assegurarmos essas condições para que o concelho não ande para trás. Basta pôr os olhos na Marinha Grande e percebemos o que tem acontecido, os atrasos que pode significar. O que pode despertar um eleitorado para a utilidade de participar na eleição, e às vezes esse eleitorado é o que mais prejudica o PSD, temos consciência disso. Mas, com a dinamização das campanhas poderá ser muito útil para o PSD.
PJ – E se não for?
DM – Se não for, tem-se de arranjar a solução possível, sendo certo que a lei é aberta a muitas soluções positivas. Primeiro de tudo, o presidente da Câmara será sempre o primeiro da lista com mais votos. O tempo tem trazido uma clarificação das posições e percebe-se que, a pouco mais de 45 dias da apresentação das candidaturas no tribunal, ainda haja alguma dificuldade na recolha de assinaturas por candidaturas que têm muitos meses na rua, o que demonstra bem, sem pôr em causa o sucesso que possa vir a ter, que às vezes as declarações precisam de ter uma concretização na sociedade.
PJ – “Pombal + Futuro”, qual é o futuro de Pombal?
DM – O futuro de Pombal é assumir-se como um parceiro regional e uma entidade que tem aqui um caminho que começa agora a ficar bastante mais clarificado nas missões que o concelho pode desempenhar, acima da média, de forma dificilmente repetível por outros, que traga um valor acrescentado aos nossos cidadãos ao nosso território, às nossas empresas. Temos de ter uma parte importante do nosso orçamento dedicado a áreas que são importantes para o nosso território, que têm um apoio da comunidade e que em conjunto antevejam as soluções que possam ser uteis para todos.
“O futuro de Pombal é assumir-se como um parceiro regional”
PJ – Os seus adversários são unânimes quando dizem que é necessário atrair investimento…
DM – Em Março tínhamos 1.341 desempregados no concelho, começámos em Outubro de 2013 com 2.215. Verdadeiramente importante é ter bem qualificados os nossos profissionais. Atrair por atrair, para depois dizer que não temos mão-de-obra pode ser um grande problema, uma grande responsabilidade. Parece ser evidente que é muito fácil, muito mais provável e é muito mais robustecedor para a estrutura económica do concelho termos as nossas empresas cada vez mais comprometidas com o nosso território, ampliando e crescendo cá, do que meramente trazendo para cá empresas de fora. Concluímos que as empresas que cá estão cravaram cá os pés e querem continuar cá, que diversificaram as suas produções e o seu portefólio de serviços que são cá desenvolvidos e produzidos e correspondem às necessidades do mercado. Apoiar muito os que estão cá sem prejuízo de apoiar outros. Também conseguimos.
PJ – Vai fazer uma campanha de afectos por Pombal?
DM – Eu acho que esses paralelismos com o contexto nacional… é evidente que é muito assinável a forma de proximidade que o senhor Presidente da República faz em relação ao anterior Presidente da República. Mas há uma coisa espantosa, ambos foram eleitos. Portanto, o mesmo povo que elegeu um, elegeu outro. Essa proximidade é positiva, não temos duvidas nenhumas, mas também é positiva se for consequente.
PJ – Quanto à sua lista, “equipa que ganha não se mexe”?
DM – Agora estamos a terminar o processo das juntas de freguesia e da Assembleia Municipal e depois teremos novidades em relação à equipa. Pode haver mudanças, é evidente.
PJ – O que sente quando ouve dizer que é um dos melhores autarcas do país?
DM – Acho que é um bocadinho exagero. Procuro servir as pessoas. É a minha missão.
“A IGNORÂNCIA TIRA-ME O SONO”
Pombal Jornal (PJ) – Orgulha-se publicamente, algumas vezes, de ser pai de quatro filhos. Tem tempo para ser pai?
Diogo Mateus (DM) – Não tenho o tempo que gostava. Isso não tenho.
PJ – Fala com eles sobre política?
DM – Nunca. Eu procuro que primeiro percebam que há muitas opiniões diferentes das nossas. Que os fundamentos dessas opiniões são diversos e que às vezes são incompletos, por várias razões, e nós temos de nos habituar a viver com tudo isso de uma forma natural. Quando eu digo incompletos, não é que alguém tenha mais vantagens que os outros, mas sim porque pode faltar uma informação, o raciocínio pode não ser tão delineado, e que essa diferença deve ser apreciada e não deve ser condenada, porque esse é um espírito de tolerância à diferença. E, que, também, de certa forma, não condenem aqueles que se calhar de uma forma mais violenta, mais hostil ou menos concordata, possam manifestar essa diferença de opinião. Mas isso é um conceito de vida. Depois, falo sobre a ajuda entre eles. Acho que é uma forma muito robusta, mesmo que possa ser longínqua quando trabalharem em sítios diferentes, de perceber que têm uma coesão entre os irmãos que lhes dá uma força. Como se costuma dizer nas famílias numerosas – e eu sou bisneto, neto, filho e pai de família numerosa – onde se dividem as tristezas, se multiplicam as alegrias. Onde há um conjunto de conceitos de vida, de espiritualidade, de proximidade, de honestidade, de franqueza, de tolerância, que os ajudem a ser boas pessoas. Isso é que é importante.
PJ – Quem são os seus ídolos?
DM – Não tenho ídolos… Todo o cristianismo, não apenas na figura histórica de Jesus Cristo, mas em todos os sábios, doutores da Igreja, papas, sábios sacerdotes… há personalidades que eu tenho um reconhecimento da sua dimensão intelectual, mas idolatrar não é coisa que faça.
PJ – Tem algum livro em cima da mesinha de cabeceira?
DM – Tenho vários… Tenho sobre a política americana recente, tenho uma biografia sobre Santa Teresa d’Ávila… um sobre a Princesa de Eboli… e depois tenho evangelhos, sobre essa matéria imprescindível para a boa formação humana.
PJ – O que lhe tira o sono?
DM – A ignorância tira-me muito o sono. Mas eu durmo sempre bem, primeiro. Nunca deixo de dormir. Aliás, tenho muita facilidade em adormecer. Mas eu acho que a ignorância, a falta de estudo, essencialmente. Porque são coisas que podendo ser ultrapassáveis, não o são por preguiça, e eu acho que isso é uma coisa má. Não tenho muito tempo para ler, portanto levanto-me muito cedo para ler. Ou escolho a altura certa para o fazer ou finjo que ando a fazer, portanto se quero ter um ritmo diário de leitura de 15 ou 20 minutos tenho que me sacrificar com esta prática. Depois é uma grande chatice, as pessoas que têm o seu grupo de amigos ficarem desactualizados, de não terem conversas interessantes, de não trazerem temas novos. Não deixo para mim tudo aquilo que possa ser útil ao desenvolvimento do meu concelho… Por exemplo, custou-me quando iniciamos os pequenos almoços com os colaboradores do município que houvesse declarações de alguns trabalhadores dando conta que nunca tinham cumprimentado o antigo presidente da Câmara. Será possível? Eles disseram que era.
“A minha vida tem sido muito devotada ao serviço público a Pombal”
Pombal Jornal (PJ) – Há quem o acuse de não ser uma pessoa muito próxima dos cidadãos, sobretudo dos meios mais rurais…
Diogo Mateus – Eu já fui presidente de junta. Ganhei a junta de freguesia de Pombal numa altura em que provavelmente seria a eleição mais difícil desde o 25 de Abril e ganhei nesses territórios. Nas ultimas eleições para a Câmara Municipal isso também foi evidente. Eu não vou a menos sítios a que se ia, e não sou menos convidados do que se era. Não atendo menos gente, mas resolvo mais problemas, e mais depressa. Há uma coisa que não sou, é malcriado, também não sou metediço, e também não sou daquelas pessoas que acha que onde estiver toda a gente tem que saber que lá estou…
PJ – É mais reservado então…
DM – Há uma reserva que quem esteja a receber deve cultivar da forma que entenda melhor e portanto não acho que o presidente da Câmara, seja ele quem for, tenha de ser o centro das atenções quando vai a um arraial. Deve estar, falar com as pessoas com a naturalidade que a sua condição primária como cidadão lhe dá. Se tiver de usar da palavra deve-o fazer, mas não deve manipular para que isso aconteça. É isso que tenho feito nos últimos 25 anos. Há pessoas que devem achar que há estilos mais popularuchos, mas repare, bebo mais vinho que bebia o antigo presidente da Câmara (risos).
PJ – Considera-se um politico de carreira?
DM – Não. Repare que eu até fui estudando e aquilo que fui procurando saber depois de me ter licenciado, vai precisamente mais no sentido de me preencher como cidadão com procura de múltiplas matérias, o que me deixa muito tranquilo para fazer imensas coisas. Em alguns casos até desejoso de fazer essas coisas, ate porque a idade também nos trás alguns constrangimentos. Mas uma coisa não posso negar, vou a votos ininterruptamente desde 1989, participei em todas as eleições autárquicas desde essa altura. Portanto, a minha vida tem sido muito devotada ao serviço público a Pombal. Hoje reconheço, excessivamente devotada, a um homem que manifestou que não o merecia, mas estará na posse das suas faculdades para tomar as decisões que toma, e não tenho dúvidas nenhumas que muitos dos processos foram possíveis porque havia organização, porque havia um bom escrutínio, porque havia planeamento. E nós sabemos que essas não são as características de alguns candidatos.
DA JSD À LIDERANÇA DA CÂMARA
Luís Diogo de Paiva Morão Alves Mateus tem 47 anos e é pai de quatro filhos. Foi um militante activo da Juventude Social Democrata (JSD), tenho sido presidente da Concelhia e do Plenário de Militantes de Pombal. Mas não só. Foi vice-presidente e vogal da Comissão Política Distrital e chegou a Conselheiro Nacional. É Militante Honorário da JSD. Já no PSD foi vogal da Comissão Política de Secção de Pombal da qual é vice-presidente. Na juventude, foi também dirigente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Pombal e da Associação Académica da Universidade do Minho. No associativismo foi sócio co-fundador da Associação de Produtores Florestais de Pombal, bem como da “Aurora”, uma associação de defesa do ambiente. Foi igualmente fundador da associação cívica “A Diferença” e do Centro do Património da Alta Estremadura. O seu nome está associado, ainda, à então Associação de Promoção de Hábitos de Vida Saudável e Prevenção das Toxicodependências (OPTAR), bem como à Filarmónica Artística Pombalense e à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pombal. Em 1989 ingressou a lista candidata do PSD à Câmara de Pombal, mas só em 1993 foi eleito vereador. Em 2002 conquistou a Junta de Pombal para o PSD, tendo acumulado funções com as de Adjunto do Governador Civil de Leiria. Em 2005 regressou à Câmara, tendo sido nomeado vice-presidente. Nas autárquicas de 2013 foi o cabeça de lista do PSD, ocupando a cadeira onde se sentou, durante 20 anos, Narciso Mota, agora seu adversário político.
Entrevista publicada na Edição de 22 de Junho