Na música, uma cantiga. Na estatística, um valor que possui o maior número de ocorrências num levantamento de frequências. No dicionário, um uso passageiro que regula a forma de viver e vestir, de acordo com o gosto do momento. No meu mundo, Moda é arte.
Não são raras as vezes em que os dois conceitos se misturam na sabedoria popular, abrindo portas ao engano de que só tem estilo quem está na moda. A verdade é que estilo e moda não são sinónimos.
O estilo é como uma impressão digital, um espelho da individualidade, reflexo da personalidade. Embora inclua tendências e possa albergar pedaços de Moda, não é disso que depende. Através dele, presumem-se traços característicos da pessoa, bem como o meio em que se move ou qual o seu enquadramento socioeconómico e profissional.
Nos estudos relativos à Consultoria de Imagem, catalogamos os estilos e concluímos que cada indivíduo tem um estilo predominante aliado a outros dois. Com a ajuda de um profissional, qualquer um pode descobrir qual o fio condutor a seguir para melhor transmitir ao mundo a mensagem da sua essência, ou seja, a imagem que melhor o descreve.
Estilo não tem nada a ver com vestir, dos pés à cabeça, o que é colocado nas montras das lojas do Grupo Inditex. Por mais que se vá alterando e evoluindo com o atravessar das diferentes fases inerentes à vivência humana, há nele coerência e por isso mesmo, um quê de intemporalidade. Não é passageiro e é facilmente reconhecido, mesmo que por vezes seja camaleónico e experimental.
A Moda é o que nos provoca emoção. Por vezes, comove. Faz nascer desejo. Noutros momentos, causa repulsa. Ame-se ou odeie-se, a materialização da criatividade de um designer mexe connosco. Nas passerelles, nas revistas, nos figurinos de peças de teatro, séries ou spots publicitários.
Lembro-me de ansiar pela edição da Vogue de Setembro, ainda menina. Analisava meticulosamente as páginas que anunciavam as tendências para a estação fria num misto de receio e esperança, porque todos os anos havia algo que custava a aceitar e que me pesava mais que a excitação pelo que me fazia querer correr para as compras.
Moda é uma forma artística de contar a História da Humanidade, ou não poderíamos associar as franjas aos loucos anos 20, as boca-de-sino às décadas de 60 e 70 ou os enchumaços nos ombros aos berrantes anos 80. Ela acompanha-nos, às vezes ultrapassa-nos e é incompreendida, mas não passa despercebida. Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce, sendo que o Homem neste caso, são pessoas que não precisam de mais do que um nome para serem imediatamente identificados: Valentino, Galliano, Karl.
Do lápis para as linhas e agulhas, surge esplendorosa nas Semanas da Moda, de onde virá a saltar para a rua, já desconstruída e reinterpretada, até ser banalizada, perder o interesse e, com ele, a capacidade de despertar desejo no consumidor, que já estará distraído com algo lançado mais recentemente.
Ela define cores, padrões, texturas e cortes que vamos querer usar. Incute elementos seus em todos os estilos, mesmo que de forma tão subtil e imperceptível a olho nu que duvidemos até que a Rainha de Inglaterra, nos seus tailleurs elegantemente tradicionais, tenha laivos de Moda – e tem! No entanto, no seu estado mais puro demora a entranhar-se, causa estranheza, choca ou apaixona ao primeiro olhar. Como quando apreciamos arte num museu, mas com efemeridade.
Porque o estilo, esse, é eterno. Talvez por isso continuemos a ter como referência mulheres de outras eras.