Num ano atípico para os negócios, há quem ouse ‘remar contra a corrente’ e mostre que continua a haver lugar para o empreendedorismo, sobretudo para os projectos diferenciadores, estampados com o selo da qualidade, que são sempre bem recebidos. A cerveja Sol da Sicó é a prova disso mesmo.
Filipe Coimbra da Costa e Rúben Mortágua têm em comum não apenas a juventude, mas o enriquecimento profissional trazido do estrangeiro, onde chegaram a estar emigrados. A história da Sol da Sicó, que começou a ser produzida este ano, em Pousadas Vedras (freguesia da Redinha), tem uma história que deu os primeiros passos na Suíça, país onde, durante uma prova de cervejas, Filipe percebeu que podia fazer bem melhor do que aquilo que lhe era dado a provar. Para isso, “comprou um ‘kit de iniciação de produção de cerveja caseira’, mas os resultados obtidos não eram suficientemente bons”, conta Rúben Mortágua, sobre a iniciação do amigo neste universo. Mesmo assim, Filipe não desistiu. Resolveu aprofundar conhecimentos e fazer uma formação sobre produção de cerveja. A par disso, apostou na melhoria do material utilizado, na introdução de matérias-primas naturais, aperfeiçoou técnicas e experiências e, com tudo isto, a dedicação e o gosto pela actividade foram também crescendo. O resultado desta dedicação começou a evidenciar-se na qualidade do produto obtido e Filipe Coimbra não podia estar mais orgulhoso. A cerveja que produzia “era muito mais saudável e de qualidade superior à que bebia anteriormente”, o que o deixou naturalmente satisfeito, recorda Rúben ao nosso jornal, “além de ter sido surpreendido pelos sabores das suas experiências caseiras”.
Nesta fase, Rúben Mortágua ainda estava longe de imaginar que se iria juntar ao amigo nesta ‘aventura’. Os dois conheceram-se durante um jantar e foi nessa ocasião que teve oportunidade de “provar algumas experiências de Filipe”. A partir daí, nunca mais perderam o contacto, que acabaria por se transformar numa “grande amizade, que perdura até hoje”, conta Rúben. Adepto assumido da cerveja produzida por Filipe, “de qualidade e sabor muito apetecível”, incentivou o amigo “a pensar em algo mais sério” e que extrapolasse a barreira das simples “experiências”.
Tal como Filipe, também Rúben era um apreciador de cerveja artesanal, gosto que foi cimentando e aperfeiçoando “depois de muitas provas”, realizadas durante as visitas a outros países, bem como das experiências do amigo Filipe, com quem quis começar a aprender a produzir também cerveja.
É deste interesse comum que nasce o projecto da micro cervejaria Sol da Sicó, aproveitando toda a bagagem e conhecimento trazidos das experiências de Filipe, inclusivamente o nome. Do “Sol” vem a ligação à vida no campo, à agricultura e à cor ‘alourada’ da cerveja. Da “Sicó” resulta a ligação “à serra, à história e às pessoas da nossa região”, contam os dois jovens empreendedores.
Ainda que a marca já estivesse criada quando Rúben se juntou a Filipe, a verdade é que só depois da dupla avançar com o projecto é que a Sol da Sicó tomou um novo rumo.
Mas até estarem reunidas as condições para a criação da micro cervejaria, os dois amigos e sócios tiveram que ultrapassar um conjunto de formalidades legais. A obtenção do deferimento alfandegário chegou no dia 24 de Junho e, a partir daí, o negócio estava oficializado e pronto para dar início à produção.
Matérias-primas seleccionadas
É a partir de Pousadas Vedras, uma aldeia na freguesia da Redinha, situada nas encostas de Sicó, que chegam ao mercado, desde então, quatro tipos de cerveja: A Louraça, a Preta, a IPA (Pale Ale Indiana) e a Brutal, mas o objectivo é alargar esta “família”, revelam os dois amigos e sócios.
E o que marca a diferença desta cerveja em relação a outras? “Bom, isso é complicado”, começam por responder, para logo a seguir enunciarem os ingredientes deste sucesso: “o amor e dedicação investida neste tipo de produção, em conjunto com as matérias-primas seleccionadas, de origem natural, sem quaisquer aditivos químicos, é o que faz a diferença”, asseguram.
Para a concretização do projecto, a dupla de sócios não recorreu a qualquer apoio. “A nossa cervejaria é pequenina e todo o investimento que tem é capital pessoal”, afirmam. E aí contabilizam-se as “muitas horas roubadas à família, muita dedicação, alguma frustração (a parte legal é bastante burocrática) e muita paixão por cerveja”, confidenciam.
Nesta fase inicial, a micro cervejaria ainda não tem produção diária, sendo esse calendário definido em função do stock em armazém. De momento, a Sol da Sicó tem já alguns pontos de venda em Pombal, como o Restaurante Vintage, a Mercearia da Praça e uma empresa de eventos Coração de Canela, que se encontra a explorar a esplanada dos Olhos de Água, em Anços (Redinha). Uma lista de clientes a que se deverão juntar novos estabelecimentos em breve.
Sobre os planos de crescimento e expansão, a resposta não deixa margem para dúvidas: “a nosso ver, o céu é o limite”, socorrendo-se, para isso, de uma afirmação de Albert Einstein que diz que ”a imaginação vai levar-te a todo o lado”. “Claro que pretendemos crescer, mas ainda não temos planos definidos. O mercado e os nossos clientes definirão o nosso futuro. Mas a ideia é levar algumas cervejas a concursos”, revelam os dois jovens empreendedores, orgulhosos do feedback positivo que tem sido manifestado pelos clientes. Com base nisso, “acreditamos que nos ajudarão a crescer”.
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Filipe Coimbra da Costa morou boa parte da vida no estrangeiro, onde começou por trabalhar no sector da administração informática, tendo, mais tarde, sido operador de máquinas de escavação. “Antes de ter o meu filho pensava muito em ganhar dinheiro, mas com a vinda dele mudei completamente, passando a pensar mais na família. Quis sair do stresse da cidade e ter uma vida mais saudável, seleccionando comidas e bebidas mais saudáveis para consumo na minha família”, conta. Para isso, fez uma formação em Agricultura Bio Dinâmica e Apicultura. Regressou a Portugal “para colocar em prática” todos os sonhos que trazia na bagagem, sempre a pensar no melhor para a família.
Rúben Mortágua também foi emigrante. O desemprego levou-o a sair do país, mas hoje reconhece a importância dessa experiência no seu crescimento, a vários níveis. De regresso a Portugal, conheceu a mulher com quem casou e que o levou a apaixonar-se “pela Serra do Sicó, pela espeleologia, pela Redinha, pela sua natureza, pela sua História e pelas pessoas daqui. Foi aqui que ganhei raízes e é aqui que vivo feliz com a minha família. Agora com a micro cervejaria e com o meu sócio e amigo, cada dia é uma conquista com algum suor mas com sorriso sempre presente”, remata.