O Teatro Amador de Pombal (TAP) vai estrear este sábado, dia 26, a sua nova produção. Um novo desafio para este grupo pombalense que leva à cena uma peça de Gil Vicente, “Farsa do Juiz da Beira”, na sua versão quase original, ou seja, num português ainda arcaico. Uma comédia em que vemos “a esperteza rústica de um juiz e o seu entendimento muito pessoal do mundo e da Justiça” que pode desiludir “os burocratas que o queriam pôr à prova nas audiências que é chamado a realizar na farsa, mas não certamente os espectadores, que assistem nestes julgamentos de paródia a uma divertida demonstração do mundo às avessas característico das obras mais cómicas de Gil Vicente”. Outra novidade é ao nível da banda sonora, que foi escrita propositadamente para o espectáculo. Mas já lá vamos…
Para encenar esta peça, o TAP recorreu a alguém que conhece bem os cantos à casa. O pombalense Miguel Sopas é o encenador, a quem se juntou Ana Limpinho na cenografia, num trabalho cénico que marca o regresso do grupo à linguagem do Teatro de Máscara.
Ao Pombal Jornal, o encenador referiu que este projecto teve a sua génese durante a pandemia, quase como uma brincadeira. “Eu disse que era engraçado fazermos algo de Gil Vicente”, algo que o TAP nunca tinha feito, “e trouxe uns textos para ler. O grupo entusiasmou-se muito com este texto”, afirma, “e foi a partir daí que tudo começou”. Miguel Sopas criou um Ciclo de Actividades de Criação e Formação, contando com o apoio da Casa Varela – Centro de Experimentação Artística e da Direcção-Geral das Artes, em que foram realizados workshops que serviram de preparação para os actores do TAP, mas que foram também abertos à comunidade. O encenador realizou ainda um atelier de construção de máscaras “já com o intuito destas virem a ser usadas na criação do espectáculo”. Isto porque o desafio era o de pegar no texto de Gil Vicente, mas em que a metodologia de criação da peça fosse o recurso à máscara.
O espectáculo que agora estreia conta com nove actores em palco, “desde gente que está no grupo há mais de vinte anos, até gente que está a entrar pela primeira vez”. Não é segredo para ninguém que, desde há algum tempo, o TAP adoptou uma política de trabalhar com encenadores profissionais, assumindo o compromisso de os próprios elementos também terem um comportamento bastante profissional na forma como encaram cada novo projecto. Esta mesma reportagem foi realizada numa noite chuvosa, a meio da semana, com a sala de ensaios a contar com mais de uma dúzia de pessoas a trabalhar. Miguel Sopas deixa também elogios ao grupo, garantindo que “tem um ritmo de trabalho e um nível de trabalho que não são comuns para uma estrutura que leva Amador no nome”. Não se trabalha com a carga horária de um grupo profissional, mas “são todos disponíveis e trabalham muito bem”.
Voltando à banda sonora… Esta foi escrita propositadamente por José Peixoto, tendo ainda outra curiosidade. É interpretada pelo Prisma Quintet, um quinteto de instrumentos de sopro de madeira que se constitui como a única formação profissional do género em Portugal, que integra músicos pombalenses.
A estreia da “Farsa do Juiz da Beira” é no Teatro-Cine de Pombal, dia 26, pelas 21h30. No dia seguinte, o TAP apresenta-se na Batalha e, a 3 de Dezembro, em Alpedrinha (Fundão).