O artesão é um obreiro da natureza, pessoa que exerce uma arte muito própria e que remonta às origens, ao trabalho manual e ao engenho. É o beber da tradição, muitas vezes o ofício que se aprendeu sozinho, na procura da utilidade da peça no trabalho ou no adorno. Este é um território vasto que nos leva às nossas raízes e ao não tecnológico, motivo que faz despertar mais curiosidade e fascínio nos dias que correm.
Em plena Feira de Artesanato e Tasquinhas de Pombal, damos a conhecer dois artesãos pombalenses, Guilhermino Gaspar e Maria Grazina. Dois exemplos muito diferentes, mas que, na sua essência, apresentam a proximidade de quem, desde cedo, procurou aprender a fazer algo especial, sem entrar em qualquer discussão do que é ou não a arte, do que é ou não o belo.
“O HOMEM DOS BONECOS”
Guilhermino Gaspar tem 54 anos e desde os doze que faz peças em cimento, posteriormente começando a usar também outros materiais, fazendo desta actividade o seu dia-a-dia. Tem duas filhas e vive com a mãe na Roussa de Cima, freguesia de Pombal.
Talvez inspirado no avô materno que, entre outros ofícios, era cesteiro e tanoeiro, Guilhermino Gaspar experimentou as potencialidades do cimento, quando trabalhava na construção civil, começando a fazer pequenos bonecos. Rapidamente o pai se apercebeu da qualidade da representação, sempre fiel aos traços reais e, verdade seja dita, mais de quatro décadas depois, nas redondezas todos o conhecem como “o homem dos bonecos”.
“QUEM NÃO PODE COM O POTE, NÃO SEGURA NA RODILHA”
Maria Grazina nasceu nos Ramalhais e agora vive na Lagoa das Ceiras, ambos os lugares na freguesia de Abiul. Conta três filhos, nove netos e onze bisnetos, mais a experiência de uma vida de trabalho no campo e a sua arte de, aos 93 anos, ainda fazer rodilhas e outras peças únicas.
As rodilhas são pedaços de pano, num rolo, que antigamente era usado para as mulheres colocarem na cabeça, fazendo entremeio entre esta e o cântaro que se levava até à fonte para ir buscar água ou o cesto com a refeição para o marido. São exemplos da utilização que era dada às rodilhas, que Maria Grazina começa por explicar, e bem, já que hoje em dia os seus usos acabam por remeter-se mais ao adorno das casas do que à verdadeira utilidade no trabalho do campo. “É como uma menina a crescer”, compara, recordando que as coisas mudaram muito ao longo dos anos.