Ainda sem a sabedoria e a clarividência que o distanciamento temporal nos concederia, caso estivéssemos a fazer um balanço do Portugal de 2014 daqui a alguns meses, eu qualificaria este ano de … perigosamente atípico… um verdadeiro “outlier”, para utilizar um conceito estatístico.
Assistimos ao longo deste ano no nosso país a muitos acontecimentos completamente novos ou que já não tínhamos sequer grande registo na nossa memória de terem acontecido no passado. Foi o ano em que aconteceu a libertação do país de um severo programa de assistência financeira internacional, foi o ano em que aconteceu um surto de uma bactéria que provocou mais de 330 infetados, foi o ano em que um ex-Primeiro Ministro é constituído arguido no âmbito de um processo de corrupção e branqueamento de capitais e, já agora, foi também o ano em que Portugal, num campeonato do mundo de futebol, não passou da fase de grupos!
De qualquer forma, se tivesse que destacar apenas um facto ocorrido no nosso país, não hesitaria em escolher o fim do programa de assistência financeira como o grande acontecimento! Este facto, embora não tivesse significado o fim de um ciclo de austeridade, significou, antes de mais, um alívio do sufoco mediático conferido pela quantidade e diversidade de notícias negativas que, de forma incessante, invadiam e deprimiam o nosso quotidiano e uma redução gradual e silenciosa da incerteza e do risco do investimento em Portugal e, acima de tudo, nos portugueses!
Em relação ao que se passou na cidade de Pombal no último ano, destacaria o facto da “sala de visitas do município”, ou seja, toda a zona envolvente aos Paços do Concelho, ter ficado mais atrativa e acolhedora, mas também a revitalização da zona histórica e as diversas iniciativas que foram desenvolvidas no sentido de acrescentar mais “conteúdo turístico” a espaços municipais, ruas ou ao próprio Castelo, por exemplo.
Focando agora a atenção no novo ano que se aproxima, em termos nacionais, é impossível não destacar as eleições legislativas, com todo o ruído que irão trazer em torno do dilema austeridade vs crescimento! Afigura-se um ano importante e até decisivo para perceber se estão finalmente reunidas condições para serem lançadas as bases estruturais de um claro balanceamento entre programas orçamentais de corte da despesa e de estímulos para a economia (em particular vocacionadas para o crescimento estável de postos de trabalho).
Ao nível concelhio, perspetiva-se a concretização de algumas iniciativas em torno da iniciativa empreendedora, designadamente a criação de uma incubadora de empresas. Gostaria muito que, em 2015, Pombal tivesse já a funcionar um verdadeiro ecossistema empreendedor, onde o empreendedorismo realmente fervilhasse. De uma forma objetiva, “bastaria” assimilar bem o modelo DNA Cascais, por exemplo!
Miguel Matias
Economista | Professor Universitário (IPLeiria)