Dinis Pedrosa é um dos sete atletas de breaking que, a nível nacional, vão ser apoiados pelo Comité Olímpico Português para se preparem para a prova-rainha do desporto mundial. O jovem é treinado pelo pombalense João Santos e é o único da zona Centro a figurar naquele grupo restrito.
O bailarino de breaking, Dinis Pedrosa, é uma das sete “Esperanças Olímpicas” da modalidade que, nos próximos dois anos, fazem parte do projecto do Comité Olímpico Português (COP), destinado a apoiar atletas que, através dos seus resultados, demonstram qualidade para integrar a preparação para aquela competição.
A novidade foi avançada pelo treinador do jovem de 17 anos, estudante no Colégio João de Barros, nas Meirinhas, que diz que Dinis Pedrosa é o único nome da região Centro, tendo sido a terceira escolha a figurar numa lista onde constam bailarinos da modalidade de vários pontos do país. Em Pombal, há apenas um praticante, da mesma idade, e colega de Dinis na escola de Leiria.
Até à data sem histórico nos Jogos Olímpicos, a possibilidade de os bailarinos de breaking acederem ao programa “Esperanças Olímpicas” só foi possível com “a apresentação de um projecto” ao COP, através da Federação Portuguesa de Dança Desportiva (FPDD), como explica o treinador João Santos, envolvido na redacção do documento e na selecção dos jovens. “Significa que o COP acredita que há esperança de estes miúdos chegarem aos Jogos Olímpicos de 2028 ou 2032”.
Na escolha dos melhores, João Santos e os restantes elementos da FPDD tiveram em conta “um misto de critérios” onde se incluem, entre outros, “as capacidades demonstradas nas competições nacionais e internacionais” ou o aproveitamento escolar. A integração no “Esperanças Olímpicas” abre as portas dos Centros de Alto Rendimento (CAR) a estes atletas, mas o apoio vai bem mais além, porque “não é apenas financeiro”, como explica João Santos. Inclui uma preparação a vários níveis, como “perderem a ansiedade quando estão em palco, terem sessões de fisioterapia, psicologia ou nutrição”, por exemplo. “O objectivo é capacitar o mais possível estes atletas para eles chegarem aos Jogos Olímpicos”, explica o pombalense. Em traços gerais, vem colmatar “a elevada falta de meios nas próprias escolas” para dar resposta às exigências de uma modalidade que requer “muita força, muito cardio e muita flexibilidade”. “90% dos nossos B-Boys ficam pelo nacional, porque não há meios financeiros para ir mais longe”, revela o treinador.
Bailarino há 25 anos
Aos 39 anos, João Santos conta com uma ligação de cerca de 25 anos ao breaking e, destes, 10 são já como treinador. “Dar aulas nunca foi uma prioridade, porque é preciso muito tempo para treinar” mas, aliado a isso, João diz que nunca sentiu muita motivação para tal. Até ao dia em que foi desafiado por uma amiga para treinar o Dinis. “Acabei por ceder, até porque a idade já começava a pesar e, além disso, havia necessidade de professores para a modalidade”, conta.
Actualmente, dá aulas numa escola em Leiria, na Urban Dance Fusion, e em Pombal, na ArtMovement, mas pelo caminho passou pela Marinha Grande. Sobre o Dinis, destaca a “evolução constante” do jovem, “de tal modo que ultimamente, em tudo o que são competições nacionais, ou chega à final ou ganha”. Mas as vitórias não são fruto do acaso. “O breaking é muito exigente e o Dinis, além de treinar bastante, é dedicado. Conta também com o apoio dos pais, o que é fundamental, porque há miúdos que não treinam mais, porque não têm esse apoio”.
Dinis sempre gostou de dançar
A vida de Dinis Pedrosa andou sempre de mãos dadas com a dança. Em casa, cedo se percebeu que esta paixão era bem mais do que isso: o talento estava à espreita e era colocado à prova nas festas de família, onde fazia questão de ser o animador de serviço. “Se não fosse a dançar, era com algo que tinha que ver com o mundo do espectáculo ou das artes”. E isto até ao dia em que começou a assistir a vídeos no youtube. Teria “quatro ou cinco anos”, altura em que percebeu que, de tudo o que via e fazia, “o que gostava mesmo era da dança”, recorda. Foi por isso sem surpresa que, por volta dos seis anos, pediu aos pais para frequentar uma escola de dança.
Por sugestão de uma prima, que conhecia uma professora que ia abrir uma escola em Leiria, inscreveu-se na Urban Dance Fusion. Foi o primeiro aluno da escola, há 10 anos. “É preciso ter uma grande dedicação e, se não tivermos paixão naquilo que fazemos, acabamos por desistir, sobretudo na adolescência”, afirma, com a convicção própria de quem sabe o que quer.
Residente na freguesia de Colmeias e a estudar no Colégio João de Barros, nas Meirinhas, o quotidiano de Dinis exige disciplina de toda a família e muito esforço financeiro. Quatro vezes por semana treina na escola de dança, frequenta o ginásio à quarta-feira e ao fim-de-semana (sábado ou domingo) ainda vai a Lisboa para trabalhar sobretudo hip-hop coreográfico, noutra escola.
Questionado sobre a definição de breaking, o B-Break (designação dada aos bailarinos rapazes) diz ser “uma forma de expressão, de nos libertarmos, mas também de lazer. Acima de tudo, é uma paixão”, frisa.
Estudante do 12º ano, Dinis espera prosseguir estudos superiores sem deixar para trás a modalidade. Numa altura em que vai desenhando o futuro profissional no horizonte, o jovem não esconde o desejo de a vida profissional passar pela dança. “De tudo, o meu sonho é ser bailarino e trabalhar para conseguir viver disso”, realça. “Por enquanto isso não é possível em Portugal, mas talvez se abra uma porta com os Jogos Olímpicos”. Se assim não for, a área do Desporto é outra das possibilidades neste caminho.
E por onde passam os sonhos de Dinis? “O meu objectivo é sempre divertir-me, ainda que, quando estou lá, queira ganhar ou mostrar o meu melhor”, mas assume que, nesta fase, quer “chegar aos Jogos Olímpicos ou mostrar um pouco mais quem é que eu sou”.
Apoio dos pais
Tânia Pedrosa – ou a mãe Tânia como é tratada no grupo de alunos da escola – estava longe de imaginar que o filho chegasse tão longe. “Ele entrou na dança para ser feliz e isso é o mais importante”, realça, trazendo à tona “esta paixão, o amor pela dança”.
“A intenção nunca foi ser o melhor ou ganhar muitos prémios” e, como faz questão de dizer, “quando não se cria esse tipo de pressão, sem querer que eles realizem os nossos sonhos, eles tornam-se extraordinários. As coisas acontecem de uma forma muito mais leve, sem pressão”.
À questão sobre o investimento dos pais ao longo destes anos (de tempo e de dinheiro), Tânia dá ênfase à resposta com uma questão: “Se me perguntarem se é um sacrifício? Não! É um benefício”, sem retirar a isso toda a “disciplina” diária, a diversos níveis, que requer este apoio. Até para o próprio Dinis, “que é um adolescente e que também gosta de sair, mas que também tem de ter tempo para estudar, e é bom aluno”.
Tânia Pedrosa não pratica a modalidade, mas vive intensamente esta paixão do filho. “Às vezes não sei quem é que gosta mais: se ele ou eu”, assume (risos). Além disso, “gosto muito dos miúdos. Ali parece que todos são felizes, focados e sem as problemáticas da adolescência. O breaking está muito associado a miúdos de rua, mas não. São pessoas muito tranquilas, felizes, com muito companheirismo”, realça a ‘mãe Tânia’.
*Notícia publicada na edição impressa de 9 de Março