Não vale a pena estarmos com rodeios ou exaustivas explicações sobre a intenção ou o alcance do documento: o Manifesto dos 70 é uma birra colectiva, de quem não acertou nas previsões e de quem não admite que está (e sempre esteve) errado. São os mesmos anunciantes da Espiral Recessiva, do inevitável 2º Resgate e até ex-governantes com responsabilidade directa no descalabro do país que querem agora vir “livrar a cara” e tentar acertar à força, nem que para isso seja necessário enviar esta “injecção de descrédito” direitinha para a caixa de correio dos nossos credores e demais investidores estrangeiros.
O texto em si não trás nada de novo, a opção é conhecida, foi e é sistematicamente debatida. Mas o facto de não apontar qualquer caminho do pós negociação e ao não ter em conta (em nenhum momento) as naturais exigências que seriam sempre feitas em troca dos “perdões” estabelecidos, torna este documento numa peça de humor negro em que a sátira à salvação de Portugal esconde a real e perigosa perda de credibilidade externa que tanto nos custou a construir. É uma brincadeira de mau gosto, para alimentar grandes egos, que só podia despoletar as reacções negativas que despoletou, para além dos rasgados elogios que lhe são dirigidos por tão ilustres e insuspeitas figuras como são Pacheco Pereira e José Sócrates, atribuindo-lhe ainda mais credibilidade.
Mas não se trata de ser contra ou a favor da restruturação da divida. Em bom rigor somos todos a favor de pagar menos (elementar). Mas não o podemos exigir, dar imagem de mau pagador ou cair no clássico mas sempre radical: Não pagamos! É preciso tempo, estabilidade e reconhecimento externo da nossa credibilidade para que o possamos fazer. Não é com toda a certeza, logo depois de um pedido de ajuda e muito menos com negociações/exigências em praça pública. Os proponentes queriam protagonismo e acabaram a dar um triste espectáculo.
Pedro Brilhante