“Um partido na oposição tem de ser capaz de propor alternativas credíveis”

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Telmo Lopes é o novo presidente da Comissão Política Concelhia (CPC) do CDS-PP, sucedendo a Liliana Silva. As eleições decorreram no dia 23 de Julho, tendo a lista liderada por Telmo Lopes sido a única a apresentar-se a sufrágio. “Depois de quase dois anos de estreita colaboração com a anterior concelhia, senti que tinha a disponibilidade e capacidade para liderar este projecto. Durante este período conseguimos reunir várias pessoas com gosto pela sua terra, com vontade de fazer a diferença e que se identificam com os nossos valores. Esse potencial humano não pode ser desperdiçado e, juntos, conseguiremos recuperar a força que o CDS-PP já teve e que merece”, revela Telmo Lopes, acerca das motivações para avançar com a candidatura.

Telmo Lopes, na Praça Marquês de Pombal. O urbanismo é uma das áreas a que a CPC quer dar destaque

Recentemente afirmou ter encontrado, em 2020, um partido “fragilizado e fragmentado”, aquando das anteriores eleições. Desde então, sente que o trabalho realizado conseguiu alterar esse quadro pouco favorável? Ou o contexto nacional voltou a prejudicar os objectivos definidos? “O meu primeiro acto enquanto filiado do partido, para além do pagamento das quotas, à data, facultativas, foi em Julho de 2020, aquando da eleição da anterior concelhia” recorda o recém-eleito presidente. “O 1º semestre desse ano não foi fácil para o partido, a nível local ou nacional, mas em ambos os prismas a nossa queda e desagregação já se tinham iniciado uns anos antes”, reconhece o dirigente. “Como outros militantes, vi na eleição de Francisco Rodrigues dos Santos uma oportunidade de o partido se renovar e de se aproximar dos jovens e dos insatisfeitos”. Contudo, “volvidos dois anos, sabemos que, por alguma imaturidade da sua parte e porque internamente a sua eleição não foi bem aceite, o seu mandato deixou o partido pior do que estava”. Por isso, “neste momento há que reunir todas as tropas em redor do Nuno Melo, pois é essa a única forma de o partido se revitalizar e se reafirmar nas urnas”, constata.
E como é que espera, agora, com uma equipa renovada, contrariar esse estigmas e passar a mensagem desejada ao eleitorado? “Para recuperar parte do nosso eleitorado e conquistar alguns abstencionistas é necessário mostrar trabalho”, começa por dizer Telmo Lopes. Para isso, “temos já criados alguns grupos temáticos, e outros se seguirão”, para, em conjunto, serem estudadas “as áreas seleccionadas, perceber os reais problemas de cada uma, listar soluções tecnicamente viáveis e apresentá-las”, revela o dirigente político. “Para além do exercício da crítica, um partido na oposição tem de ser capaz de propor alternativas credíveis e quase irreprováveis”, defende.
Entre as prioridades da nova CPC estão o ambiente, agricultura, educação, saúde, urbanismo e desporto. Contudo, ressalva Telmo Lopes, “no estudo dos problemas de cada uma destas áreas agregadoras tem de estar sempre presente o problema do envelhecimento populacional e da perda de população”, assumindo que o caminho para “contrariar este movimento” deve ser feito por “uma de três vias”. Uma das possibilidades passa pelo “regresso dos nossos emigrantes, de preferência em idade laboral”, mas o presidente do CDS-PP de Pombal aponta também a “fixação duradoura dos imigrantes que acolhemos” e a necessidade de “promoção do nosso território como destino atractivo para vários portugueses fartos da vida nas grandes urbes” como factores a ter em conta. Na perspectiva de Telmo Lopes, “os incentivos à natalidade têm eficácia residual e apenas a médio/longo prazo, não resolvendo o problema grave de falta de mão-de-obra que nos aflige”. Além disso, “o urbanismo, a organização do território e as políticas de habitação ganham, neste contexto, uma extrema relevância seja em meio urbano ou em meio rural” e, em resultado disso, defende o dirigente, “não podemos continuar a repetir os erros de décadas que levam ao abandono dos centros históricos das cidades e vilas e à morte de muitas aldeias”.
Sem representação na Assembleia Municipal (AM), tem consciência que a tarefa será bem mais difícil? À questão colocada, Telmo Lopes assume as falhas. “A ausência na AM e de algumas assembleias de freguesia onde já tivemos representação é responsabilidade do partido e advém de vários erros estratégicos cometidos”, reconhece o líder centrista. “A intervenção política tem de ser constante, qualitativa e bem divulgada. Não podemos desaparecer da vida das pessoas durante vários anos e depois pedir que confiem em nós nas eleições”, nota Telmo Lopes, assumindo a necessidade de estarem “mais presentes”, acompanharem as pessoas “na tentativa de resolução dos seus problemas e apostar na divulgação das nossas propostas pelos meios que temos ao dispor, comunicação social e redes sociais, sem ignorar a necessidade de ir ao terreno e falar com os munícipes”.
Nesta medida, a nova CPC liderada por Telmo Lopes quer “dar continuidade ao trabalho realizado no passado, sem ignorar ninguém. Os filiados que se mantiverem activos após a alteração efectuada na obrigatoriedade do pagamento das quotas serão todos contactados e convidados a participar, com o grau de envolvimento e exposição social que pretenderem”, adianta. A par destes, a estrutura política conta “com alguns cidadãos que, não querendo assumir esse compromisso, estão disponíveis para colaborar com a sua opinião e o seu trabalho na melhoria das condições de vida dos pombalenses”. Em traços gerais, “o maior objectivo deste mandato é organizar equipas activas em todas as freguesias do concelho, que serão a génese das listas a serem apresentadas em 2025”, revela o presidente do CDS-PP de Pombal. “Ao contrário do que a generalidade dos portugueses pensa e verbaliza, a grande maioria das pessoas que se envolve na política local não o faz por ambição pessoal ou de carreira. Fá-lo apenas porque quer fazer uma pequena diferença na sua comunidade”, conclui.

O presidente do CDS-PP lamenta o abandono de centros históricos como o de Pombal

A ligação à política
Telmo Lopes nasceu e viveu em Coimbra até aos 14 anos. O pai é natural de uma pequena aldeia do concelho de Miranda do Corvo e a mãe da cidade de Pombal, para onde se mudou em 2007, depois de ter vivido em Lisboa, onde estudou, trabalhou e casou.
Desde cedo que a política esteve presente na vida do líder do CDS-PP de Pombal. “A guerra colonial, a revolução de Abril, o PREC e a descolonização eram temas recorrentes que se mantiveram muito presentes até à minha adolescência”, conta. Deste período recorda “três acontecimentos de relevância histórica e de cariz político”, nomeadamente, a morte de Francisco Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e restante comitiva, bem como a morte de Carlos Alberto da Mota Pinto, “numa morte repentina e também marcante no espectro da direita política”. Sobre isso, recorda, ainda, o momento em que viu “a bandeira da torre da universidade (cabra) a meia haste e de perguntar qual a razão do sucedido”. A estes acontecimentos acrescenta “as maiorias absolutas de Cavaco Silva, em cujas campanhas e festejos participei, com maior relevo para a de 1991, época na qual já residia em Lisboa”.
A filiação no CDS-PP veio bem mais tarde, em 2011, “ano que o país recorda por más razões e que eu recordo por boas, pois foi o ano em que nasceu a minha filha”. Uma decisão motivada, segundo Telmo Lopes, “pela conjuntura política e económica”, assumindo que “a escolha não podia ser outra, se não o partido que congrega uma perspectiva humanista da sociedade, com inspiração cristã”, a que se soma “uma visão conservadora a nível dos costumes e uma organização económica liberal”.
O líder centrista, nascido em 1973, reconhece, no entanto, que “tem faltado ao CDS-PP muito engenho e arte na forma como se apresenta aos portugueses” e na forma como “participa no processo de educação política das pessoas”. O presidente da CPC considera que “em quase 50 anos pouco se evoluiu a nível de cultura política do país”, o que “se traduz na escandalosa taxa de abstenção”.
“O nosso futuro depende de nós e, por mais pequena que seja a nossa influência ou poder, temos a capacidade de mudar o nosso futuro”, diz.

*Notícia publicada na edição impressa de 4 de Agosto