O ciclismo faz parte das rotinas de João Silva, Anabela Antunes e Lara. Pai, mãe e filha estão inscritos na Federação Portuguesa de Ciclismo, mas é a mais nova que tem somado conquistas que reflectem a evolução na modalidade. Em Julho, a atleta sagrou-se campeã nacional naquela que é considerada a maior festa do ciclismo jovem nacional.
Aos nove anos, Lara Silva exibe orgulhosamente a medalha do 1º lugar conquistado no último fim-de-semana de Julho, no Encontro Nacional de Escolas de Ciclismo, na vertente de estrada, em Almeirim (Santarém). Naquela que é considerada a maior festa do ciclismo jovem a nível nacional, a atleta pombalense foi a melhor no escalão de iniciadas femininas, somando mais uma vitória ao palmarés de boas prestações, sobretudo nesta última temporada.
Mas desengane-se quem pensa que a menina de cabelos claros e sorriso rasgado aprendeu cedo a andar de bicicleta. Os pais não sabem precisar, mas Lara teria cinco ou seis anos quando aprendeu, sozinha, a controlar o pequeno veículo de duas rodas. A partir daí nunca mais parou. João Silva, o pai, assume boa parte da ‘culpa’ por ter despertado este bichinho na única filha do casal, mas não se arrepende. Federado há 25 anos, o empresário entrou na modalidade sem que nada o fizesse prever. A necessidade de recuperar das lesões musculares provocadas numa perna por um acidente de trabalho conduziu-o até ao ciclismo, onde ao longo de 25 anos já disputou um sem número de provas, nas vertentes de BTT e estrada.
Mal aprendeu a andar de bicicleta com a destreza necessária, Lara passou a fazer parte da equipa de ciclismo (escolinhas) dos Lama Solta (Louriçal), onde deu então os primeiros passos no BTT. “Sempre vi o meu pai a andar de bicicleta e quis experimentar”, conta, com a vivacidade própria de quem tem está habituado a contornar obstáculos e a superar-se. Manteve-se dois anos no grupo, a equipa entretanto terminou e Lara percebeu que “o BTT não era a minha praia”. Ponderou desistir mas, uma vez mais, a motivação familiar foi determinante para não se deixar abater.
Mudou-se de ‘armas e bagagens’ para a Escola Cantanhede Cycling (começou, nesta altura, a fazer também ciclismo de estrada), onde está há duas épocas desportivas e que foram, nas palavras do pai, sobretudo de “adaptação”, mas também de evolução. Neste período, Lara tem-se destacado nas inúmeras competições, tendo já conquistado 14 medalhas, na sua esmagadora maioria, com direito a pódio. “A conquista de títulos começou a motivá-la”, conta o pai. “Depois de chegar aos quartos lugares disse que haveria de conseguir mais. E conseguiu”, acrescenta.
E ainda que a medalha de campeã nacional, alcançada no Encontro Nacional de Escolas de Ciclismo, em Almeirim, tenha sido especial, Lara não esconde que, de todos estes triunfos, há um com sabor especial: o primeiro lugar ganho em Roriz (Guimarães), em Maio deste ano, “porque fui ganhar à terra da minha principal adversária”, conta, com o sorriso que denuncia o orgulho sentido, por entre as gargalhadas que o ‘desabafo’ provocou nos pais.
Desporto caro e de grande disciplina
A evolução de Lara não tem sido fruto do acaso. Por detrás das medalhas que traz ao peito no final de cada prova estão longas horas de treino semanal, muito foco e disciplina. E ninguém melhor dos que os pais para valorizar este esforço. Para além dos dois treinos semanais que faz no ginásio de casa, na bicicleta estática, é também João Silva que aos fins-de-semana acompanha a filha nos treinos de rua. Aos sábados, a dupla percorre cerca de 50km em bicicleta de estrada e aos domingos treina BTT na pista dos Marrazes. Seja dentro ou fora de portas, Lara segue os planos de treinos enviados mensalmente pelo treinador que a acompanha, sempre sob supervisão do pai.
“A Lara está a evoluir bastante, mas também tem um treino muito rigoroso”, evidencia João, que a esta este esforço acrescenta todas as outras exigências associadas a este desporto. Para além do investimento mensal, nomeadamente em material, a disponibilidade para acompanhar Lara às provas é outro requisito fundamental, salienta a mãe, mas o casal não mostra sinais de qualquer lamento.
Ainda que dos pais receba um apoio incondicional, Lara destaca a diferença de personalidades. Da mãe, mais pessimista por natureza, ouve os receios de que algo pode não correr dentro das expectativas (risos ao recordar alguns episódios). Do pai vem a motivação maior, onde não há espaço para receios, “porque acredito nas potencialidades da Lara e sei o trabalho de casa que faço com ela”, constata João. “Os meus pais apoiam-me em tudo”, faz questão de frisar a pequena ciclista.
Determinada e cheia de sonhos, Lara Silva ambiciona chegar longe na modalidade que lhe preenche boa parte dos dias, com a participação em grandes provas a desenhar-se no horizonte. “Se ela continuar assim, é possível”, diz o pai, perante o olhar cheio de brilho que ressalta da filha ao pensar nessa possibilidade.
*Notícia publicada na edição impressa de 1 de Setembro