Na edição passada, escrevi como se as férias tivessem vindo para ficar. Provavelmente terá sido verdade para alguns, mas ter-me-á escapado uma franja importante de gente que ainda “não lhes terá visto a cor”. Tratar-se-á muito provavelmente de gente para quem os dias que correm são uma espécie de tortura: acordar custa como nunca, a paciência tem andado a níveis abaixo de zero, ao contrário dos níveis de ansiedade que parecem engordar a olhos vistos. É também provável que esta gente mártir já tenha dado por si a evitar falar com aquele amigo que já está de férias, ou mesmo evitar encontros com determinados perfis no facebook, sobretudo naqueles onde estão criteriosamente representados os momentos de júbilo. E julgo também ser expectável que esta gente que (ainda) trabalha comece a notar na sua mente o surgir de algumas dúvidas quanto às opções de vida (“qualquer dia mudo de trabalho”; “já não aguento isto”; “para o ano meto férias o verão todo”; “tenho de fazer alguma coisa por mim, se não vou dar em doida”). No seu conjunto, este status gera um cansaço extremo, que se auto-alimenta na contagem milimétrica dos dias, horas, minutos e segundos em falta para as férias.
Quebrar com este ciclo não é fácil, por isso deixo algumas premissas para ponderação: 1) neste período, não se deixe levar pela montanha de coisas que ainda tem para fazer; obrigue-se a focar numa de cada vez, sem se enredar no peso do que falta (só porque quer deixar tudo em dia antes de ir de férias); 2) neste período, obrigue-se a fazer momentos de pausa, envolvendo-se em atividades das quais gosta realmente (mesmo que seja aparentemente impensável tirar tempo ao trabalho); 3) estabeleça prioridades (faça o mais urgente e não adie o mais importante; não são raras as vezes em que paralisamos quando temos a noção de que tudo ainda está por fazer); 4) ao deitar e ao levantar, medite por momentos (a prática de Mindfulness pode ser uma excelente ideia) e sinta-se grata/o por estar presente (e viva/o) em cada momento; 5) tire uns minutos apenas para planear as férias, mas não as idealize (a maior parte das vezes, as expetativas arrasam os momentos de pausa); 6) pondere o que tem andado a fazer o ano todo para agora “andar nesse estado”; mude o que estiver ao seu alcance e aceite o que está fora do seu controlo; 7) peça ajuda se o entender!
O Verão é potencialmente uma altura boa no ano, mas se não estiver bem por dentro, ele poder-se-á tornar num período de grande tristeza ou depressividade. Não se sinta obrigada/o a festejar se não tiver vontade; ou não se obrigue a andar feliz. Acima de tudo, não julgue o que sente, e mantenha-se ocupado/a. A ocupação é sempre um antídoto importante para a depressividade, e disfrute da natureza, se possível aliando o exercício físico. Se este for o seu caso, desejo-lhe coragem para vencer o que mói por dentro!
Andreia Azevedo
Psicóloga/Psicoterapeuta
Diretora Clínica da(o) Psivalor